Assim me falou Deus
Tive um sonho.
Eu estava num deserto,
Despido
De túnica e estola.
E minha língua
Estava colada
Ao céu da boca.
Olhei para minhas mãos:
Elas continuavam ungidas.
À minha volta
Só havia solidão.
Mas de repente
Eu vi uma sarça ardendo,
Sem se consumir.
E do meio do fogo
Ouvi uma voz:
Meu filho,
Fala em meu nome!
Eu respondi:
Proibiram-me de falar!
Ele me disse:
Eu não te proibi!
Ao contrário,
Eu te ordeno que fales!
Eu reafirmei:
Não me deixarão falar!
A voz então me disse:
Se não te deixam falar
nas suas tribunas,
escreva!
Ainda sem saber o que responder,
Murmurei:
Escreverei.
O Senhor me falou então:
Eis que colocarei minhas palavras
em tuas mãos,
falarei pelas pontas de teus dedos.
Tiraram-te a túnica e a estola,
Mas não poderão tirar minha unção.
Minha água te lavou,
O sangue de Meu Filho
Te purificou
De tuas imundícies.
Escreva, pois, o que eu te disser.
Ponho sobre ti o meu Espírito
Para que me anuncies.
Eu redargüi:
Me chamarão de louco!
Deus me disse:
Todos os profetas foram chamados de loucos.
Lembra-te de que eu vim para confundir os sábios.
Pois a minha loucura é mais sábia
Que toda a sabedoria deste mundo.
Perguntei:
O que queres que eu escreva?
Ele respondeu:
Escreverás poesias.
É por meio delas que falarei!
Pois a linguagem precisa
Só falará de mim superficialmente
Então acordei com este pensamento:
Somente a linguagem metafórica
Pode falar de Deus.
Abrirei meu coração
E deixarei Deus falar
Em mim,
E através
De mim
Em meus poemas
Simples.